A SBPOT e a Psicologia Organizacional e do Trabalho em Angola

Publicado em : 21/03/2016

Autor : João Saveia*

Durante os últimos anos tenho estudado a profissão de psicólogo em Angola e testemunho o crescimento expressivo do campo no país, com destaque para a área de Psicologia Organizacional e do Trabalho. Tal facto deve-se ao aumento considerável do número de Instituições de Ensino Superior e ao crescimento económico (pelo menos até 2014), aliado à presença de grandes corporações estrangeiras, que em seus países de origem têm o Psicólogo Organizacional e do Trabalho como elemento importante no processo de gestão das pessoas.

Assim, no panorama de inserção profissional dos psicólogos, a área de POT é a preferência, tanto por aqueles que nunca atuaram como aqueles que estão trabalhando fora do campo da Psicologia. Entre os que atuam no campo, as atividades de POT e a docência são as que mais os ocupam. Trata-se de um panorama distinto da realidade brasileira, não obstante ser esta a realidade com mais influência entre os psicólogos angolanos, quer pela literatura usada no país como pela formação de boa parte dos psicólogos graduados fora de Angola.

Quanto às atividades, no mercado angolano tem crescido, ainda que de forma tímida, a demanda por atividades que vão além do modelo mais tradicional de atuação do Psicólogo Organizacional e do Trabalho. Entre elas, destaco os programas para a empregabilidade, preparação para a aposentadoria, qualidade de vida e bem-estar no trabalho, saúde mental, desenvolvimento de equipas, desenvolvimento organizacional e pesquisas de clima organizacional. Ressalto também o fato de, cada vez mais, os profissionais da área serem chamados a atuar em funções de assessoria e consultoria, levando-os a intervirem em níveis mais complexos e globais das organizações.

Trata-se de uma nova fase de desafios para o Psicólogo Organizacional e do Trabalho em Angola. No entanto, a atuação dos profissionais da área ainda é muito limitada. Apenas alguns, e muito timidamente, tentam ultrapassar o recrutamento e a seleção, mas param na formação e na avaliação de desempenho, deixando de contribuir mais efetivamente para a resolução dos problemas que envolvem as pessoas no mundo do trabalho.

Diante de tal realidade, e quando há dias assistia o Workshop de Competências em Psicologia Organizacional e do Trabalho, organizado pela SBPOT, mais uma vez parei para refletir sobre a POT em Angola e em como o debate da SBPOT seria relevante para o meu país. Logo, fui pensando na possibilidade de estender-se o debate para Angola ou até mesmo para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), ao mesmo tempo que pensava no papel que a SBPOT poderia desempenhar na relação entre os profissionais destes países. Aliás, acredito que, por ser o país que mais forma psicólogos angolanos, fora de Angola, como dito anteriormente, suas instituições deviam acompanhar mais de perto o exercício destes profissionais, até como uma forma de avaliar suas próprias instituições de formação e as competências que vão passando para os formandos do país “culturalmente próximo”.

O intercâmbio de trabalhos, experiências e organização de atividades conjuntas, enriqueceria, sobremaneira, a profissão nas nossas realidades. Pelo fato de não existir em Angola uma organização congénere à SBPOT, a troca de experiência entre os profissionais dos dois países, especialmente na realização de pesquisas interculturais, seria o ponto de partida para uma relação mais estreita entre as duas realidades.

Essas atividades, consideradas iniciais, poderão, por outro lado, promover o surgimento de uma organização angolana que congregue os profissionais da área. A partir daí, e num trabalho conjunto, poder-se-ia começar a pensar numa organização que congregue as associações dos profissionais de POT da CPLP, a exemplo da Federação das Associações de Psicólogos dos Países de Língua Portuguesa, que tem vindo a desenvolver ações para o fortalecimento da profissão nos países membros.

João Saveia* Doutor em Psicologia pela UFBA. Pesquisador e Diretor Geral do CIEPOT (Centro de Investigação e Estudos em Psicologia Organizacional e do Trabalho – Angola)