Retenção de pessoas: como manter os principais talentos na organização

Publicado em : 21/03/2016

Autor : Andrea Valéria Steil*

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Uma das grandes preocupações que eu tinha quando era dirigente e responsável pela área de gestão de pessoas de um instituto de pesquisa e inovação tecnológica era com a retenção daqueles profissionais que faziam a diferença. Em contatos com outras organizações deste segmento percebi que esta preocupação era compartilhada por todos os seus dirigentes. Isso porque o produto deste tipo de organização é desenvolvido com base em um intangível que dificilmente pode ser imitado ou transferido: o conhecimento. O que não queríamos era que nossos profissionais pedissem demissão para trabalhar em outras organizações ou porque haviam passado em um concurso público. Apesar disso, a nossa rotatividade voluntária era alta, e não estávamos sozinhos.

Como gestora e psicóloga propus-me a diminuir os riscos da perda de profissionais qualificados em meu instituto. Iniciei, então, uma linha de pesquisa com foco na identificação tanto das intenções dos profissionais continuarem a trabalhar em organizações específicas quanto nas intenções desses pedirem demissão. Paralelamente a isso também busquei compreender por que algumas organizações conseguiam reter por muito mais tempo seus profissionais do que outras do mesmo setor. Para entender essa realidade eu precisava olhar tanto para o sujeito que trabalha quanto para a organização.

Depois de seis anos de pesquisa nesta área sintetizo minhas principais aprendizagens. A retenção de profissionais depende de quatro grandes fatores. O primeiro envolve as características individuais destes profissionais, como idade, estado civil, sexo e escolaridade. O segundo fator diz respeito às características da relação do sujeito com o trabalho que ele realiza, como a sua satisfação com o trabalho, sua motivação, seu salário, o ambiente no qual o trabalho é realizado, entre outros. O terceiro fator está nas características da organização e no que ela oferece, como treinamento, benefícios, a própria cultura da organização, entre outros. Por fim estão os fatores ambientais externos à organização, como a situação econômica ou política do país.

São muitos fatores para que os gestores e psicólogos levem em consideração, para onde, então, direcionar o olhar? De todos os fatores, os menos gerenciáveis e com menor impacto na retenção são os pessoais e os ambientais. Queremos reter os profissionais qualificados de ambos os sexos e diferentes gêneros, de qualquer idade e escolaridade, casados ou não. Temos menor controle também do ambiente externo: queremos os melhores talentos, tanto em períodos de recessão quanto de crescimento econômico.

Proponho, portanto, que gestores e psicólogos organizacionais voltem sua atenção aos fatores ocupacionais e organizacionais, que estão no âmbito de atuação da área de gestão de pessoas da organização. A estratégia de gestão de pessoas influencia as atitudes das pessoas com relação ao trabalho, à organização e a comportamentos específicos, incluindo o comportamento de permanecer ou de sair da organização voluntariamente.

Dentre os fatores ocupacionais, o destaque vai para a satisfação (em suas cinco dimensões: com o trabalho, com a chefia, com as promoções, com os colegas e com o salário), o comprometimento afetivo, a liberdade de julgamento, a ausência de discriminações de toda ordem e a garantia da qualidade de vida. Por fim, dentre os fatores organizacionais destaco o sentimento de estar continuamente aprendendo (seja via treinamentos formais ou informais), a cultura voltada a valores de relacionamento e os benefícios (como participação nos lucros, bônus em função do desempenho, e plano de saúde extensivo à família).

Se organizações são agrupamentos humanos intencionalmente construídos e reconstruídos para o alcance de objetivos específicos, nós psicólogos devemos ocupar o nosso espaço para a construção (ou reconstrução) de organizações em que as pessoas queiram permanecer trabalhando, e com saúde!

*Andrea Valéria Steil é professora dos Programas de Pós-Graduação em Psicologia e em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Antes de se dedicar integralmente à academia, atuou por cerca de dez anos em organizações com e sem fins lucrativos como psicóloga e executiva.