Diversidade, inclusão, tolerância e valorização no Brasil.

Publicado em : 14/04/2016

Autor : Cláudio Torres*

Por que seria importante conversarmos sobre diversidade e inclusão no contexto atual brasileiro? Atualmente tem se tornado um conceito tanto crítico quanto elusivo na nossa sociedade, à medida que as mudanças demográficas da força de trabalho levam a uma reflexão sobre o que o país pode e deveria ser. Ele é elusivo porque, como qualquer expressão popular, pode se tornar trivializada ou ser usada para significar uma ligação superficial com certos valores sociais sem uma consideração séria sobre as implicações de tais valores para as relações interpessoais nas organizações ou nas políticas sociais. Contudo, ele é crítico porque muito depende do quanto nós tentamos equilibrar a valorização das diferenças que é inerente à diversidade com a necessidade de uma cultura comum que é necessária para que qualquer sociedade se mantenha coerente. Se temos essa dificuldade com o conceito de diversidade e seu uso popular e acadêmico, o que não falar então do conceito de inclusão? Enquanto diversidade está ligada às diferenças, a inclusão se relaciona à forma que as pessoas percebem que são tratadas no contexto organizacional. Quando discutimos inclusão, estamos falando de uma cultura que se manifesta em termos de tratamento justo, igualdade de oportunidades e representação em todas as funções e níveis organizacionais, dentre outras práticas. Na inclusão, as vozes das diferentes pessoas são ouvidas, apreciadas e efetivamente levadas em consideração nas decisões. Diversidade é demonstrada por meio da representação dos diferentes grupos na organização. Inclusão é o que é feito desses grupos uma vez que eles já estão na organização. Logo, o conceito de inclusão vai muito além da discussão sobre cor, raça, orientação sexual, gênero, pessoas com deficiências e tantos outros grupos tradicionalmente trazidos à tona nas conversas quando se fala de incluir as pessoas nas organizações ou na sociedade. A diversidade e a inclusão são as metas finais quando se busca a eliminação da opressão institucionalizada nas organizações e na própria sociedade, caracterizada por algo que está em processo, em movimento, e não uma condição ou uma fotografia de uma imagem em movimento. A opressão institucionalizada é um fenômeno social sistemático, baseado nas diferenças entre grupos sociais, que envolvem a noção de dominação ideológica, controle institucional e a promulgação da ideologia do grupo opressor, seu sistema lógico e sua cultura sobre o grupo oprimido, cujo resultado é a exploração de um grupo social pelo outro, para o benefício do segundo. Tal processo resulta em comportamentos tanto dentro, quanto fora das organizações que expressam o ódio, a repulsa ou o medo pelas diferenças. Em suas formas mais brandas, o que observamos é a intolerância. Comportamentos de ódio são tão atuais, quanto assustadores, como feminicídio, assassinato de homossexuais ou perseguição religiosa em um país que tanto se orgulha de seu sincretismo religioso. Não são raros também os comportamentos de intolerância por posições políticas divergentes no contexto atual e em uma sociedade que ainda aprende os primeiros passos da democracia, apenas para dar um exemplo. A diversidade e a inclusão, contudo, também não buscam a tolerância, que nada mais é do que do que o grito raivoso do técnico de futebol diante das câmeras na conquista de um título e que se tornou uma espécie de ícone dos brasileiros ao final dos anos 1990 “- Vocês vão ter que me engolir!”, tampouco a aceitação, que garante nada mais do que a perpetuação do status quo ao destacar símbolos individuais dos grupos discriminados para serem aceitos nos mais altos escalões, mas com pouco acesso ou controle limitado sobre recursos e informação aos seus demais representantes. A diversidade e a inclusão buscam a apreciação e a valorização das diferenças, a noção de que “nós somos melhores por causa das nossas diferenças, e não apesar delas”. O trabalho com a diversidade não é mais uma opção; é uma realidade e um imperativo. E mais, é um ganho organizacional. Optar por não fazê-lo é uma decisão simplesmente burra.

*Cláudio Torres é professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília, obteve seu Ph.D. na University of California San Diego, tendo feito estágios pós-doutorais na Griffith University (Austrália, 2003), University of Sussex (Inglaterra, 2009) e Hebrew University of Jerusalem (Israel, 2013). Seus principais interesses de pesquisa são diversidade e inclusão nas organizações e pesquisa transcultural.