O que a Psicologia Organizacional e do Trabalho tem a dizer sobre a crise?

Publicado em : 01/03/2017

Autor : Eveli Freire de Vasconcelos*

O país atravessa um   momento de crise política, social e econômica, que impõe um grande desafio aos brasileiros. O período apresenta um curso de acontecimentos que poderia ser tomado como indicativo de tendências para o futuro próximo e cuja repercussão desfavorável incidiria sobre os trabalhadores, com alto custo para a sociedade e para as organizações de trabalho.

As crises empresariais têm contornos específicos e estímulos distintos e, diante deste cenário, várias empresas têm declinado; constantemente noticiam-se à diminuição da capacidade de uma determinada organização no mercado. A discussão relacionada à essa questão, na maioria das vezes, busca a compreensão de como e porquê as empresas falharam ou perderam competitividade, mas pouco se discute sobre como podem enfrentar as dificuldades do período. Nesse sentido,  reconhecer as competências internas à organização – assim como analisar as variáveis externas e a relação dessas informações – auxiliam na definição de estratégias a serem seguidas .

Existe uma expectativa geral, pela intensidade da crise econômica e política que o Brasil atravessa, de que esse quadro permaneça pelos próximos anos, sendo pertinente considerar que as organizações de trabalho (OT) enfrentam e enfrentarão no que tange às incertezas do ambiente externo de forma contundente. A capacidade de lidar com a crise depende da constituição formada pela OT; no entanto, ao considerá-la como um processo dinâmico de interações psicossociais, identificam-se gestores e atores com papéis fundamentais na construção dessa  realidade.

Trabalhos contínuos de gerenciamento de mudanças, para sobrevivência nesses ambientes turbulentos, devem ser desenvolvidos. Deve existir uma construção psicossocial centrada em auxiliar os trabalhadores de forma eficaz, na qual, em primeiro lugar, os funcionários devem obter informações adequadas sobre o seu ambiente; e, em segundo lugar, precisam possuir condições internas apropriadas para adaptabilidade, assim como para aquisição de conhecimentos, habilidades, capacidades e cognições, para permitir a negociação dos muitos desafios internos e externos de reestruturação. A reorientação que se inicia no período de crise  é a mais arriscada.

A transformação radical pela qual vem passando o país desde o primeiro semestre de 2015 traz alterações significativas com indicadores que apontam para diminuição da perspectiva econômica, aumento do desemprego e da informalidade e queda de renda. Esse cenário, com características opostas às observadas na última década, volta a promover a diminuição dos salários pagos aos novos contratados no país; o drama do desemprego tem enredamento com desalento, sofrimento, luta e desespero pelas dificuldades causadas aos trabalhadores e suas famílias. Mas também sinalizada pela dinâmica atual, na qual se reenganjar no mercado ou conseguir um outro emprego não livra ninguém da possibilidade de, repentinamente, passar novamente à categoria de desempregado

Dessa forma, a renovação organizacional e a busca de reequilíbrio do mercado envolvem várias ações e requerem modificações  que serão alicerçadas pelos modelos mentais de seus atores. Representações mentais que já não podem acomodar ou explicar ocorrências no ambiente devem ser alteradas e novas compreensões devem ser desenvolvidas para adaptação individual e organizacional eficazes, que envolvem reconfigurações cultural, estrutural e funcional, incluindo cognições e emoções. Parece-me que a resistência cognitiva à mudança pode ser um grande empecilho à transformação das organizações e dos trabalhadores.

Torna-se evidente a necessidade de acompanhamento desses fenômenos, assim como, o reconhecimento de novas demandas individuais, organizacionais e psicossociais, na medida em que elas podem representar uma importante forma de enfrentamento e adaptação às mudanças. Estudos e intervenções que considerem a situação de crise, principalmente em meio a dificuldades como a que o país vive atualmente, são escassos. Nesse sentido, considera-se que os resultados apontam caminhos que precisam ser mais bem explorados pela POT.

*Possui graduação , mestrado e doutorado em Psicologia pela UCDB . Atua como docente e supervisora de estágio Básico e Específico no Curso de Graduação em Psicologia. É coordenadora do curso de Pós Graduação Lato Sensu em Psicologia Organizacional e do Trabalho (EAD e Presencial) da Universidade Católica Dom Bosco.Tem experiência em Psicologia,Organizações e Trabalho, atuando principalmente em temas da área: gestão de pessoas, comportamento organizacional