Publicado em: 25/11/2021
Autora: Paula Brant
Em um contexto de rápidas e grandes transformações, as demandas que recaem sobre as lideranças se alteram e as competências necessárias para lidar com os novos desafios também.
À medida que os problemas se tornam mais complexos, as lideranças precisam atuar em diferentes “Arenas políticas” para conciliar os interesses divergentes. Essas diferenças, que são naturais, acontecem porque cada indivíduo tem um campo de competência particular e conhecimentos limitados por esse campo. Cada profissional ou área da organização tende a enxergar a empresa e o mundo sob a sua própria ótica. Para resolver as questões que envolvem incertezas e ambiguidades, as lideranças precisam mobilizar todas essas competências específicas, criando ambientes participativos que possibilitem a ampliação da visão e consciência sobre um problema na busca de soluções que utilizem a inteligência coletiva e que integrem a sociedade como um todo.
Apesar de ser vista predominantemente como negativa, muitos estudiosos consideram a política como um conceito neutro. A noção de política nasce da ideia de que, quando os interesses são divergentes, a sociedade deve proporcionar os meios que ajudem os indivíduos a reconciliarem as suas diferenças através da consulta e da negociação, evitando formas e regras totalitárias.
Essa visão neutra da política abriu um caminho para a emergência da sua perspectiva positiva. No imaginário coletivo, a política costuma ser vista como o espaço de pessoas que lutam por interesse próprio e de seus pequenos grupos, ou mesmo daqueles que ficam em “cima do muro” para estarem bem com todos os lados. Com isso, deixa-se de considerar aquelas pessoas que atuam nessas diferentes “Arenas” com coragem para expor suas ideias, defender aquilo que acreditam ser o certo e conciliar as diferenças para que todos possam ter voz com o intuito de equilibrar os interesses de todos os envolvidos.
Nas últimas décadas, surgiram pesquisas que relacionam positivamente a competência política à efetividade da liderança. A expressão “competência política” é proveniente da junção de dois termos em inglês Political Will (vontade política) e Political Skill (habilidade política). Nesse contexto, é preciso que o profissional tenha tantoa vontade (motivação) quanto a habilidade para explicar o seu desempenho no trabalho.
A “vontade política” é a disposição do influenciador de usar o seu capital social na busca de objetivos que podem ter natureza de interesse próprio, mas também de benevolência. A “habilidade política” descreve a capacidade de identificar e compreender as sutilezas, intenções e necessidades da organização, colegas de trabalho, supervisores e clientes, bem como de adaptar seu próprio comportamento para influenciar positivamente em seu ambiente de trabalho.
No entanto, não é incomum pessoas renunciarem à sua capacidade de influência positiva e silenciarem sua voz mesmo quando têm algo importante a dizer. Quando as pessoas não se posicionam, elas deixam de oferecer sua contribuição, prejudicando: 1) a si mesmas, uma vez que se sentem menos engajadas, 2) a empresa, porque deixam de ofertar sua competência, e 3) a sociedade, por não colaborarem para um mundo melhor.
A pandemia trouxe muitos desafios para toda a nossa sociedade e surgiram movimentos espontâneos como “não demita” e “vacina para todos” coordenado por lideranças da área privada, demonstrando a demanda para que elas participem mais ativamente do debate público em relação as questões nacionais que afetam a todos nós. As lideranças precisam ampliar seu contexto de atuação visando benefícios para toda a sociedade e criar ambientes internos participativos para gerar inovação, inclusão e sentimento de pertencimento. Por isso, desenvolver lideranças com competência política é um caminho para alcançarmos uma sociedade melhor.
*Paula Brant é doutora em Administração (Universidade de São Paulo – FEA-USP), Diretora na BRANT Instituto de Gestão e Liderança que oferece serviços de treinamento, consultoria e mentoria para o desenvolvimento da liderança.
